Desde 29 de janeiro até 02 de fevereiro, uma caravana com cerca de 60 pessoas sai de Altamira rumo ao município de Rurópolis, com o principal objetivo de vivenciar as realidades da Amazônia e intensificar a luta em defesa dos direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais ameaçadas pelo avanço do desenvolvimentismo econômico e da mercantilização da natureza.
Com o tema ‘Agroecologia na Amazônia em defesa dos Bens Comuns’, a I Caravana do Oeste do Pará se constitui em um processo preparatório ao IV Encontro Nacional de Agroecologia, que ocorre no período de 31 de maio a 3 de junho deste ano, na cidade de Belo Horizonte (MG), realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e cujo objetivo estratégico se pauta na luta pela segurança alimentar e nutricional, na luta contra a violação de direitos, na defesa dos Bens Comuns e no fortalecimento dos movimentos agroecológicos.
Reunindo agricultores e agricultoras familiares, agroextrativistas, indígenas, quilombolas e militantes dos movimentos sociais, que passarão uma semana percorrendo diversos municípios da região, visitando dezenas de comunidades, em diálogos, trocas de experiências e intercâmbio de conhecimentos, a caravana se propõe a intensificar a valorização da agricultura familiar com base na agroecologia enquanto elemento constituinte no manejo equilibrado do meio ambiente, além de ampliar as ações da ‘Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida’.
Resistência
No contexto do avanço do agronegócio, da mineração, de grandes projetos de infraestrutura, do mercado de carbono, a Amazônia e seus povos têm sido alvos de negociações financeiras que violam direitos, modos de vida, invadem territórios, destroem a biodiversidade sob a justificativa do “desenvolvimento sustentável”. Enquanto ação de resistência a tais ameaças, a caravana torna-se uma possibilidade de reunir convergências em torno de alternativas combativas ao modelo de exploração mercadológica, fortemente instalado na região Oeste do Pará.
De acordo com Matheus Otterloo, coordenador do Fundo Dema, fundo que realiza a Caravana, a atividade pretende visibilizar os sinais de vida na Amazônia “É necessário fortalecer os grupos que estão lutando na Amazônia para resistir às ameaças dos grandes projetos que desrespeitam os modos de vida, a identidade e a cultura de povos. A caravana pode fazer uma conexão com grupos nacionais em defesa da vida das pessoas e da biodiversidade”.
Assim, pautando o diálogo com homens, mulheres, jovens e idosos do campo sobre os impactos – sociais, ambientais, culturais, econômicos e na saúde – que trazem o avanço do capital globalizado na Amazônia, os/as participantes da caravana objetivam traçar estratégias de ação coletiva numa perspectiva em defesa da agroecologia, dos Bens Comuns e dos direitos de povos e comunidades tradicionais.
Percurso
O percurso da caravana inicia na região da Transamazônica e depois segue para a região da BR 163. Os/as participantes saem da cidade de Altamira, passando por Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, chegando até Rurópolis. Em cinco dias de atividades, as pessoas farão visitas a experiências coletivas apoiadas pelo Fundo Dema, entre elas, a fábrica de chocolate Cacaway, em Medicilândia, e, também, a usina de beneficiamento de polpas de frutas Dom Oscar Romero, em Uruará, ambas experiências orientadas por práticas agroecológicas. Esta última é protagonizada somente por mulheres.
Com o apoio da ANA Amazônia e da Fundação Ford, a realização da Caravana ocorre por meio do Fundo Dema, representado por um Comitê Gestor, do qual fazem parte a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE Amazônia), Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), Prelazia do Xingu, Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Itaituba, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Itaituba, STTR de Santarém, Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária (CEAPAC), Fundo Indígena do Xingu (FIX), Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e Fundo de Mulheres Luzia Dorothy do Espírito Santo (FLDES).