Projeto inédito analisa condicionantes através do olhar do atingido

16 de maio de 2017

“Com apoio da FVPP, famílias afetadas por Belo Monte estão sendo ouvidas, e repassando sua visão sobre como é ser atingido por um empreendimento tão gigantesco”

Ouvir o que os atingidos pelas obras de construção da hidrelétrica têm a dizer: essa é a principal preocupação do Projeto inédito “A Voz dos Atingidos de Belo Monte: desafios e direitos”, executado pela Fundação Viver Produzir e Preservar – FVPP. Financiado pelo Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu – PDRSX, o projeto tem visitado áreas diretamente impactadas, e produzido um relatório detalhado dos resultados das condicionantes.

A ação foi proposta em 2014, e apresentada pela fundação como uma ferramenta necessária para avaliar o andamento das condicionantes ambientais da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e como essas ações afetaram a vida das pessoas. Aprovado, o projeto passou por algumas reformulações, e em 2016 foi iniciado. As atividades consistem em várias etapas, que incluem visitas às comunidades diretamente afetadas: ribeirinhos reassentados; famílias que viviam em áreas alagadas em Altamira; moradores da zona rural, e famílias que foram remanejadas para outros municípios.

Coordenado pela FVPP, o projeto conta com uma equipe multidisciplinar, composta por técnicos, consultores, e estagiários, que aplicaram 200 questionários em cada Residencial Urbano Coletivo – RUCs e na zona rural. Na busca pela sensação e entendimento sobre o que é ser uma pessoa atingida por um grande empreendimento, as perguntas focam no sentimento, e na visão das pessoas sobre o antes e o depois das transformações. “Nossa intenção é ouvir, e entender como eles se sentem, saber o que mudou, e como mudou suas vidas após a realocação”, declarou Nara Otília, uma das coordenadoras de campo da pesquisa.

Em sua reta final, o projeto A Voz dos Atingidos de Belo Monte analisa as condicionantes a partir do olhar do afetado, e busca explicar onde e como a ação falhou. Durante a pesquisa, grande parte dos entrevistados transpareceu não apenas insatisfação, mas uma sensação de perda por ter sido obrigado a deixar sua antiga casa, desfazer laços antigos de amizade, e não receber muito mais por isso.

Outra situação apontada pelo estudo mostra que o acesso a serviços públicos, e à justiça continua difícil para essas pessoas. Ozildo Barbosa, que também é coordenador de campo, explica que ao receber a proposta de mudança para uma área melhor, e com mais qualidade de vida, os atingidos tiveram a ilusão de que serviços básicos que faltavam às famílias que viviam em invasões seriam agora fornecidos, mas essa realidade não se materializou, e gerou ainda mais insatisfação. “Eles esperavam mais, não apenas uma casa, eles esperavam por direitos, que não vieram com a moradia”.

A equipe que coordena o projeto defende o trabalho como uma espécie de janela para o futuro. De acordo com o grupo de trabalho, essa pesquisa vai possibilitar a elaboração de programas sociais, e garantir à justiça mecanismos claros sobre como e onde houve falhas na realização das condicionantes. Eles também concordam com um outro aspecto sobre o projeto: ele vai mudar a visão que todos têm sobre as pessoas que foram atingidas pela obra. “Nós sempre olhamos para eles como pessoas que receberam casas novas, que saíram do alagado, e que por isso deveriam estar felizes, mas ao entrar nas casas, ouvir o que eles têm a dizer, percebemos que essa visão além de limitada, era distorcida, eles não só foram obrigados a mudar, como herdaram problemas ainda mais complicados de se resolver”, declarou Ozildo Barbosa.

O projeto deve ser finalizado em junho deste ano, e um relatório detalhado será apresentado ao PDRS-Xingu e às autoridades durante uma audiência pública. A intenção é tornar pública a realidade dos atingidos, e abrir caminho para que todos os atores envolvidos no processo possam conversar, analisar a situação de um ângulo mais aprofundado, e assim conseguir criar programas e políticas públicas específicas para às populações atingidas por Belo Monte.

Assessoria de Comunicação FVPP

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